Imagens desoladoras da seca. Figuras de
sertanejos sofridos pelo flagelo periódico, crianças que nascem e se
desenvolvem sem o mínimo necessário. Muitas vezes ficamos em um “mato sem
cachorro”, como simples cidadãos. Não é possível que você não conheça este
ditado antigo. Uma situação aflitiva na qual o local onde você mora ou seu
próprio país não andam tão bem quanto você gostaria. Nesta situação fazer o
que? Relaxar e “aproveitar” (para não usar uma palavra dita por Marta Suplicy)
seriam uma das opções fartamente utilizadas pelas sanguessugas da pátria.
No caso específico do Ceará, com relação ao
fenômeno da seca, por exemplo, estou cansado de ouvir ao longo dos anos as
expressões “o sertanejo tem que aprender a conviver com a seca” e outras tantas.
Seria demais exaustivo e enfadonho repetir tanta meleca dita por políticos e
maus gestores que sempre aproveitaram a irregularidade climática do nordeste
para conseguir votos, com promessas vãs, na certeza de que o povo não tem boa
memória mesmo e no final eles (maus políticos e gestores) irão se dar bem. Um
flagelo que dizima pessoas, animais, plantações e que não é considerado como
prioridade no nordeste, a bem do próprio Brasil, como unidade nacional.
Pelo menos há uns trinta anos escuto a lengalenga
antes da quadra invernosa: “estamos atravessando um período da zona de
convergência intertropical” e outras do gênero. E assim volta e meia o
nordestino se depara com um período crítico de escassez ou falta de chuvas. E
tome sofrimento do povo. Morre o gado, perdem-se as plantações e a pobreza
aumenta. O fenômeno neste ano atingiu outras regiões do país e faz com que a
mídia se volte mais para as soluções e para a cobrança de medidas
governamentais para resolver a situação.
Todo mundo sabe disso, não é mesmo? Mas e por que
soluções concretas não foram ainda adotadas para minimizar este grave problema?
Prestem atenção ao seguinte caso: entre os anos
1978 e 1983 houve uma seca considerável no Ceará. Neste período nasceu no
interior cearense, em muitas localidades, uma geração que foi chamada de
“nanica” pela falta de condições, pelas dificuldades, pobreza e outros males
trazidos pela seca. Conheci uma família em que um dos filhos, com três anos de
idade, começou a chorar desesperadamente e ninguém sabia o motivo. Uma situação
aflitiva: queriam levar a criança para um hospital, para uma emergência, enfim,
para descobrir a razão do choro compulsivo. E o desfecho: era uma chuva que
tinha começado a cair e como o menino nunca tinha tido contato com “aquilo”
vindo dos céus ficou apavorado. Para ele o fim do mundo, o apocalipse... Fato
verídico. De sorrir muito, mas ao mesmo tempo refletir sobre o triste e sério
problema.
Há soluções para o problema da seca?
Existem soluções técnicas viáveis há muito tempo
para fazer com que os nordestinos atravessem os eventuais períodos de seca ou
de pouca chuva. Mas, do mesmo jeito que não houve interesse suficiente para
programar essas soluções, fácil é observar que em outras áreas ocorre a mesma
coisa. Obras inacabadas, recursos desviados, falta de fiscalização, de
investimentos de forma plena e honesta.
O nordeste possui um povo acolhedor, trabalhador,
que não merece o que vem sofrendo há dezenas e dezenas de anos em razão da
seca. Para um desenvolvimento geral de todo o país, que possui dimensões de um
continente, não é possível tanto desprezo a vida toda. O que será do Brasil
nordestino daqui a 50 anos? A persistir o atual quadro continuará com um povo
cada vez mais sofrido, particularmente nas regiões mais afetadas pela
irregularidade do clima e, por consequência, com um atraso geral no
desenvolvimento das crianças que estão nascendo agora.
É preciso que os políticos e os governos
enxerguem isso, mas não só vejam o problema e sim trabalhem com afinco para
merecer seus altos salários e benesses pagos por todos nós contribuintes. O
problema da seca no nordeste é lamentável e eu gostaria de ver ainda melhorias
e providências concretas para a situação, mas pelo quadro geral visto no Brasil
recentemente não há muitas possibilidades para isso. O mal tem que ser
extirpado primeiramente, dos quadros políticos e governamentais. E a sociedade,
empresários, enfim todos devem se unir para uma solução definitiva, acabando
com urgência, a corrupção e a impunidade em todo o país que contaminam cada vez
mais nossa sociedade.
Todos podem contribuir mais na cobrança de
soluções para um futuro melhor, aprendendo a votar e a escolher melhor seus
representantes.
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